Quem assistiu ontem ao Programa "Prós e Contras", da RTP1, teve uma excelente oportunidade para tomar conhecimento dos "reais" problemas das Universidades e dos desafios que se colocam ao Ensino Superior. As dificuldades vivenciadas por Portugal obrigaram o Governo a reduzir em 6,2% o valor das transferências para as Universidades, a exemplo, de resto, do que está a acontecer nos mais variados sectores. Esta quebra de transferências põe em risco, no entender de alguns senhores Reitores, o salário dos respectivos professores.
Sucede, entretanto, que as Universidades públicas têm mais de 1.000 (!!!) licenciaturas, algumas das quais com menos de duas dezenas de candidatos ao 1º ano, e parte delas, com reduzido grau de empregabilidade por desajustamento dos curricula às efectivas necessidades do tecido empresarial. Cursos e licenciaturas decididos pelas respectivas Universidades ou, melhor dizendo, por alguns dos seus professores.
O Governo solicitou, assim, uma avaliação externa a uma entidade internacional de modo a aferir da qualidade do ensino superior ministrado em Portugal e deu um prazo às Universidades para implementarem o Acordo de Bolonha, na linha, de resto, do observado na maioria dos países da OCDE. Um estudante do ensino superior público custa em média, a cada contribuinte, cerca de € 5.000,00 ano, enquanto o mesmo estudante no ensino superior privado fica por metade do valor.
São, pois, muitos os desafios que se colocam ao ensino superior público. Desde logo, procurando melhorar a qualidade do ensino, gerindo com eficiência e eficácia, procurando obter recursos adicionais, uma vez que as Universidades podem conseguir receitas próprias pela prestação de serviços. Por outro lado, e uma vez que o reforço do orçamento para a Ciência foi de 250 milhões de euros, dos quais 170 milhões destinados às Universidades, poderão captar mais recursos desde que apresentem projectos concretos através dos seus Centros de Investigação. O discurso dos Reitores não aponta, no entanto, nesse sentido e, pelo contrário, enfatizam a necessidade de "terem mais dinheiro", como se houvesse uma qualquer varinha de Harry Potter capaz de transformar os desejos em realidade. Combater o desperdício, eliminar as ineficiências, coordenar esforços inter escolas, concretizar parcerias, desenvolver projectos com empresas, são palavras ainda pouco comuns na linguagem dos académicos mas que a necessidade, ditada pela escassez dos recursos, vai obrigar a trazer para o seu quotidiano.
A Universidade é "uma borboleta que tem de sair do casulo e tem de aprender a voar" para usar as palavras do Professor Luis Moniz Pereira, um dos participante no Painel, que defendeu as mudanças propostas pelo Governo. Acrescentou, ainda, que os reitores deviam ser mais pró-activos em ordem a pugnar pela melhoria crescente da qualidade do ensino da respectiva escola, assegurando uma gestão mais eficiente dos recursos.
Vivemos uma época de grandes mudanças e, a todos os níveis, é preciso fazer mais e melhor, com menos dinheiro. São estas situações que exigem líderes transformacionais que desenvolvam e projectem uma visão do futuro e encorajem os outros a contribuirem nessa direcção. Ontem, os magníficos reitores com o seu discurso não assumiram essa postura, limitando-se a exprimir a vontade de continuar a "gerir com normalidade", solicitando mais verbas do OGE ( dinheiro de todos nós) para manter a situação existente. O Ministro da Ciência e do Ensino Superior que explicou, de modo detalhado as razões que presidiram ao respectivos cortes, afirmou-se convicto que as Universidades saberiam agir em conformidade com estes constrangimentos, impostos pela situação vivenciada pelo país, procurando optimizar a gestão dos recursos. Diz o ditado: a necessidade aguça o engenho...ou, dizemos nós, a vida custa a todos.