Os camiões da desordem

Publicada por José Manuel Dias


Já vimos este filme. Este ano passou na Grécia e em alguns estados dos EUA; em Dezembro foi na Itália. Os factos históricos sobre bloqueios de camionistas dizem-nos que detêm um poder de pressão desmesurado. Podem, ao jeito de exércitos medievais ou bandos de salteadores, cercar cidades, ameaçando-as com a falta de víveres e de combustível. Podem parar países e arruinar economias. Podem cortar estradas, apedrejar veículos, rasgar pneus, cortar tubos de combustível, incendiar camiões - isto só para falar de coisas que se passaram, em Portugal e Espanha, desde segunda-feira. Em Espanha, chegaram, segundo se noticiou, a assegurar ao dono de uma loja de arranjo de pneus que se continuasse a reparar pneus de camiões vandalizados "haveria consequências". Posso estar a ver mal, mas não vejo grande diferença entre o que os camionistas fizeram e o método mafioso conhecido por extorsão, ou o mais vulgar assalto à mão armada.
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Por isso as últimas paralisações europeias terminaram sem ver satisfeita a "reivindicação" principal, a da baixa do preço dos combustíveis. Assim por cá. A questão principal será, pois, por que motivo os governos deixam as coisas chegar ao ponto de serem forçados a negociar sob chantagem. Parece óbvio que mal se esboça um movimento de bloqueio é necessário tornar claro que tal é inadmissível - de preferência, com o concurso da oposição, que assobiou para o ar perante os desmandos (será isso a credibilidade?). Afinal, como alguém escreveu, a democracia não é ausência de poder - é a legitimação do poder. Questão de o usar.
Os Camionistas do Apocalipse, Fernanda Câncio, no Diário de Notícias desta data, aqui.

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