Tivemos oportunidade de ler alguns dias atrás que "a greve dos pilotos da Portugália iria custar 1,5 milhões de euros à TAP e cerca de 1 milhão de euros à própria Portugália". Entretanto, a greve foi concretizada e, a fazer fé nesta informação, " o sétimo de 10 dias de greve levou ao cancelamento de 80% dos voos e que aderiram à greve 85% dos 150 pilotos da companhia". Não sabemos qual foi o prejuízo efectivo para a companhia de bandeira portuguesa desta acção reivindicativa dos pilotos. Uma coisa é certa: os prejuízos do ano transacto tenderão a agravar-se e comportamentos desta natureza não contribuem para a recuperação da empresa. O futuro não é brilhante. Curiosamente, outra companhia aérea, a British Airways, enviou, nesta data, um e-mail a mais de 30 mil empregados, a solicitar que trabalhem voluntariamente entre uma semana a um mês sem renumeração. Os salários que não forem pagos no próximo mês serão distribuidos parcialmente num prazo de três a seis meses.
Uns procuram defender os seus interesses, outros preocupam-se com o futuro da empresa. Cá pensam em direitos, lá equacionam as obrigações. A história ensina-nos que o excesso de garantismo pode levar ao sufoco das empresas e, por via disso, à inexistência de direitos. Pelos vistos existem alguns que só aprendem com os próprios erros.
A História também nos ensinou que a ganância e a capacidade de exploração de outrém não têm limites. Por natureza não sou adepto de greves, reinvidicações e exigências, mas louvar o extremo oposto irrita-me. Depois onde é que acaba, quando se começar a perceber que os funcionários se sentem como reféns? Se a empresa não tem viabilidade, paciência. Certamente que as empresas das quais os funcionarios da BA são clientes, não lhes dão borlas ao fim do mês: a conta da luz, da Internet, da prestação da casa e etc não se sensibilizarão quando os funcionários da BA passarem a outrém a mensagem. "Ai isto está mal, dêem lá uma borla, que nós já estamos a dar uma borla à nossa empresa". Pois é, não funciona. É o que eu digo aos meus clientes que se queixam que a coisa está mal, que não recebem dos seus clientes... está tudo muito bem, mas os meus prestadores de serviço não querem saber disso.
Uma empresa tem vários stakeholders, nos quais se incluem os accionistas e colaboradores. Gerir uma empresa obriga a encontrar um equilíbrio entre as diversas partes. Quando uma das partes quer para si todos os benefícios esquecendo os outros ineteressados potenciam-se situações de desequilíbrio. O que me parece neste caso é que uns - os ingleses - sabem que a envolvente é desfavorável e que importa preservar o futuro, enquanto outros - os pilotos da Portugália - pensam apenas nos seus interesses ( e não faço juízo de valores sobre a sua legitimidade). Esquecem-se, no entanto, que se a empresa não tiver viabilidade todos os seus "direitos e regalias" são deitados para o caixote do lixo. Podem até considerar que não estão bem - estão no seu direito - mas não podem, com a sua acção, comprometer o futuro de quantos trabalham na empresa. A minha avó dizia que "quem não está bem tem bom remédio: procure melhor!".