O Governador do Banco de Portugal divulgou ontem o Boletim de Verão do Banco de Portugal onde é apresentado o cenário macroeconómico para 2006/2007.
As projecções apresentadas confirmam os constrangimentos que condicionam a nossa economia: o endividamento das famílias e a necessidade de recurso ao crédito externo por parte do sistema financeiro, reforçam a nossa dependência da conjuntura internacional, com o preço do petróleo a assumir papel relevante. Admite-se que inflação possa subir 2,1% para 2,6%. De acordo com o BP, o preço da habitação tenderá a baixar, o desemprego de longa duração poderá crescer e o investimento total na economia dificilmente subirá. Assinale-se, entretanto, a excelente performance das exportações, em que se perspectiva para o ano em curso um crescimento de 8,4% contra os 0,9% do ano transacto, traduzindo um ganho de quota de 1%. Existem, pois, alguns sinais positivos na nossa economia que devem potenciar a nossa confiança na nossa capacidade mas que não eliminam algumas razões que justificam a manutenção de alguma preocupação.
Portugal vive hoje uma situação complexa. Os portugueses habituaram-se a um estilo de vida que não é compaginável com a actual realidade da nossa economia. Gastamos o que temos e o que não temos, por via do recurso ao crédito, obrigando os Bancos a financiarem-se no exterior, uma vez que o nível de poupança interna é insuficiente. A tentativa que o Governo tem feito para inverter esta tendência, procurando agir de modo estrutural nos gastos da Administração Pública, é, a nosso ver, um exemplo para muitas das famílias portuguesas. Os gastos são excessivos, o consumo mantém-se a níveis elevados. Importa, por isso, agir, racionalizando os nossos gastos e eliminando despesas não essenciais. Só a consciência colectiva desta necessidade, permitirá um forte contributo para a recuperação económica. As empresas portuguesas estão a fazer o que lhes compete, reforçando a competitividade viabilizando, desse mdo, o incremento das nossas exportações. As famílias têm pela frente um desafio: contribuirem neste esforço que tem que ser de todos. Portugal precisa de vencer o futuro. Charles Handy, considerado por muitos uma espécie de Peter Drucker europeu , acredita que «os pequenos países da Europa têm uma vantagem. Eles podem ser mais flexíveis, ter maior capacidade de movimento» e acrescenta «...os irlandeses são agora a segunda nação mais rica do mundo (a seguir ao Japão). Portugal talvez se junte a eles em breve". O futuro está nas nossas mãos...
Nossaaaa, q bom encontrar o seu blog!
Faço administração de empresas, por isso me identifiquei muito com o conteúdo. Vi no post q falou da inflação, vou até elaborar um projeto sovre a inflação e o Plano Cruzado no final do semestre.
Gostaria muito de receber a sua visita lá no blog.
bjs:**
Concordo com o que o seu comentário em relação ao Boletim de Verão do BP, excepto num ponto: quando se refere ao endividamento de familias e privados. De facto isto é um problema, mas não é um problema do Estado. E todo esforço (???) que tenha eventualmente sido feito para alterar os gastos da Administração Pública - fala aí em "agir de modo estrutural", mas medidas estruturais ainda não vi nenhuma - nada tem a ver com o consumo e recurso ao crédito de privados. Este é acima de tudo um problema da esfera exclusivamente privada e como tal deve ser resolvida nesse ambito, ou seja, através das taxas de juro. Como o BP já nao tem qualquer intervenção ao nível cambial/monetário, deixou de ser problema do Estado Portugues ou do Banco de Portugal. E sim, isto leva a que os bancos se endividem no exterior, mas mais uma vez, são privados - com a excepção triste da CGD - a faze-lo. E muitos deles ate tem grandes participações estrangeiras no capital... É um problema grave sim, mas na esfera únicamente da viabilidade dos privados. E não parece que os bancos se queixem. Quanto às famílias, como se costuma dizer, assume-se que os agentes económicos tenham um comportamento racional...
Cumprimentos!
Caro Carlos Martins
Antes de mais grato pelo comentário. A estima que me merece justifica uma pronta resposta. O endividamento das famílias é de facto um dos constrangimentos da nossa economia. O BP não dispõe hoje dos instrumentos que possam condicionar o acesso ao crédito, para além dos que são impostos por normativo legal às IC, como, de resto, bem assinalou. Quando referi que os portugueses se habituaram a gastar "o que tinham e o que não tinham", acrescentando depois que o Governo pela prática que tem tido, podia ser bem um exemplo para as famílias portuguesas, pretendia apenas sublinhar o valor do exemplo na aprendizagem. Quando se congela a progressão nas carreiras da AP, reestruturam serviços, elimina-se burocracia, simplificam-se procedimentos, criam-se controladores de despesas nos Ministérios, contêm-se as admissões na FP e obriga-se a acordo do MF, penso que podemos dizer que se procura gastar menos...É o que as famílias precisam de fazer em nome dum melhor futuro. Podemos até dizer que é um problema do Estado, se o considerarmos como comunidade organizada políticamente, embora não seja específicamente um problema do Governo. Existem, no entanto, várias medidas que podem ser tomadas na esfera legislativa que podem de algum modo desincentivar o consumo e estimular a poupança...Umas já foram tomadas outras poderão ser mas tudo desagua, em última instância, no comportamento dos indivíduos e aqui, com bem disse, o que se espera é que a racionalidade impere...
Cumps
Olá Andressa!
Agradeço a visita. Temos em comum o gosto pela gestão...Força nesse projecto!
Bjs