Não há almoços grátis

Publicada por José Manuel Dias


A Standard & Poor’s colocou em vigilância negativa o "rating" da dívida pública portuguesa. A primeira tentação é olhar para esta decisão e soltar uma gargalhada. Com o argumento de que nenhuma agência de "rating" tem credibilidade para dar notas: não foram elas que passaram ao lado dos sinais que ajudaram a criar a tempestade financeira do século? Mas não é assim.
Porque bem vistas as coisas, a decisão da S&P até chega tarde. Quem olhar para os mercados de dívida soberana (emitida pelos Estados) percebe que o mercado já tinha feito o seu próprio julgamento em relação ao risco associado a Portugal, agravando os spreads de colocação de dívida pública. Ou seja, a S&P não faz mais do que incorporar um juízo que já tinha sido emitido pelo próprio mercado (embora se deva dizer que no clube Med – Espanha, Portugal, Itália e Grécia – Portugal até não está mal colocado): o spread da dívida portuguesa é mais baixo que o grego, o italiano e até o irlandês. O problema é que não vale de nada contentarmo-nos com o mal menor (ter melhor “rating” que a Irlanda). Porque o que a S&P está a dizer é que Portugal tem agora menor capacidade para honrar os seus compromissos (devido ao agravamento do défice orçamental); e isso significa pagar mais pela dívida que o Estado emite. Mais uma razão para o Governo ter cuidado com a forma como gasta dinheiros públicos em ajudas à economia. Porque não há almoços grátis.
Camilo Lourenço, no Jornal de Negócios, aqui.
Imaginem só o que teria acontecido se não tivesse sido feito um esforço de diminuição da despesa pública, conseguindo que o défice de 2008 fosse o mais baixo dos últimos 34 anos.

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