Ainda a avaliação de professores

Publicada por José Manuel Dias


Os professores têm direito à contestação e à luta. Como todos os cidadãos. Isso não impede que, quanto à apreciação da legitimidade dos métodos, haja uma diferença entre defender direitos e liberdades fundamentais ou defender interesses especificamente profissionais. Certos métodos, mesmo extremos, podem justificar-se plenamente no primeiro caso: até a revolução é admissível. Mas os critérios serão outros para defender causas profissionais: o direito ao boicote, à desobediência, ao desrespeito pela lei, não encontra a mesma justificação neste caso. E essa desproporção de meios está a acontecer neste caso. O boicote orquestrado ao funcionamento normal das escolas, em desafio à legalidade e mesmo aos acordos firmados livremente, incluindo o clima de insulto generalizado, é desproporcionado como meio de reivindicação profissional em democracia.
Diz-se, por vezes, que os professores e as escolas são auto-motivados, e há aí uma parte de verdade. O conceito de comunidade escolar não é (embora na boca de certos dirigentes sindicais possa parecê-lo) uma ficção hipócrita. A motivação dos professores resulta em larga medida da estima dos pares, do desenvolvimento profissional e da sensação de pertença a um grupo de pessoas irmanadas num mesmo propósito – em suma, de uma cultura partilhada.Sucede, porém, que a comunidade escolar não pode nem deve viver em roda livre. Ela tem por força que prestar contas perante os alunos, as famílias e o país (representado pelo governo) e é aqui que entra o tema da avaliação. Para que as coisas melhorem, as normas internas de auto-regulação (as únicas que agora existem) têm que ser complementadas com normas externas e depois transformadas em função delas.
Ao contrário dos mineiros os professores têm emprego fixo, razoavelmente remunerado e, pelo menos até há poucos anos, era um emprego que permitia ter tempo para dar mais atenção aos filhos ou mesmo para ter uma segunda actividade, nem que fosse dar explicações a muitos contos à hora e sem pagar imposto. Tanto quanto se sabe as escolas não vão fechar, os professores não vão ganhar menos nem correr o risco de ser despedidos, mas já quem pense em fazer greve às avaliações, provocando o colapso de todo o sistema de ensino, dizem que em defesa da escola pública.

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