A Mudança e a história da rã

Publicada por José Manuel Dias


Ninguém teve que persuadir os que estavam no Titanic a agir. Eles foram, inteligentemente, para os salva-vidas. Mas as crises raramente caem sobre as organizações empresariais com o súbito impacte de um icebergue no Atlântico Norte envolvido em nevoeiro. A maioria das crises forma-se mês a mês.
Quase todos os que estão na vida empresarial contemplaram nalgum momento o terrível destino de uma certa rã. Segundo a história, se colocar uma rã numa panela de água a ferver, o choque é tão grande que ela salta imediatamente cá para fora. Cai-lhe a crise em cima, ela age. Todavia, prosseguindo a história, se puser a rã numa panela de água fria e aumentar gradualmente a temperatura, a rã aceitará as suas circunstâncias e, eventualmente, morrerá à medida que a água chegar ao ponto de ebulição.
Por mais feia que esta imagem seja, não é isto que está a acontecer hoje nas organizações? As condições pioram por todo o tipo de razões inesperadas. Algumas organizações ignoram durante muito tempo os sinais de perigo que predizem a necessidade de mudança. Finalmente, após anos de desempenho em deterioração - quando a água atingiu 140 graus fahrenheit e já não pode confundir-se com uma torneira de água quente - todos começam a sentir o calor e a reconhecer que tem de haver uma mudança.
In "Better Change - As Melhores Práticas para transformar a sua Organização", The Price Waterhouse Change Integration Team, Publicações D. Quixote, Lisboa (1996)

A sociedade portuguesa atravessa profundas mudanças. Ninguém questiona a sua necessidade, embora possam existir entendimentos diversos sobre os melhores caminhos. Anos de imobilismo e incompetências várias, conduziram-nos a uma situação em que não se pode mais viver de ilusões. A temperatura da água subiu. Só temos uma de duas escolhas: damos o salto ou somos cozidos. Mudar de atitude é vital. Maior rigor, maior exigência, mais qualidade e mais empenho são ingredientes necessários para essa mudança. Depende de todos. Dos mais capazes aos menos qualificados. Os agentes políticos não se podem dissociar, de igual modo, destas necessidades. A abertura das estruturas de decisão dos Partidos a sectores altamente profissionais que possam aconselhar e propôr medidas e soluções para os problemas com que nos confrontamos é, neste contexto, de grande utilidade para a concretização de uma mudança eficaz.
O sucesso do Plano Tecnológico, inscrito no Programa do Governo, apostando no conhecimento, na tecnologia e na inovação, será um bom indicador para aferir da nossa capacidade colectiva em vencer o desafio da modernização. O futuro dirá se somos bem sucedidos...

4 comentários:

  1. veritas disse...

    É sugestiva a forma como colocaste esta séria questão, utilizando a comparação da rã, torna-se mais fácil para certas pessoas incautas compreenderem situações que não batem só à porta dos outros...

  2. Pé de Salsa disse...

    Vim retribuir a visita e transmitir-lhe que nós (eu e os outros) que passamos por este magnífico blog, é que temos muito a agradecer pelas grandes lições que nos tem dado, gratuitamente, sobre economia e gestão.

    Ficamos a saber, entre outras coisas, como devem ser geridas eficazmente as empresas e as organizações, ensinamentos valiosos que, possivelmente, muitos dos nossos gestores ainda desconhecem.

    Agradeço a visita.
    Cumprimentos.

  3. José Manuel Dias disse...

    Veritas

    As metáforas tentam ser o "Bold" da mensagem principal...sempre ajuda. Obg pela apreciação e pelo contributo.

  4. José Manuel Dias disse...

    Olá Pé de Salsa,

    Uma leitura muito generosa para tão modesto Blogue.
    Grato pela visita.