A maldição portuguesa

Publicada por José Manuel Dias


O PIB é um ‘must'. Em termos simplificados, e numa perspectiva monetária, é a soma de todos os bens e serviços produzidos num determinado país. Em Portugal, em 2008, atingiu 166 mil milhões de euros. Tomemos este valor como referência e, por comodidade de raciocínio, atribuamos-lhe o valor de 100.
Primeiro ponto. Nem todos estes 100 ficaram disponíveis. Houve rendimentos, os mais diversos, no essencial ligados à dívida externa, flutuando entre nós e o resto do mundo e cujo saldo final foi negativo. Ao procedermos à correcção, obtemos o PNB, Produto Nacional Bruto, cujo valor foi de 96. Repare-se: ainda não fizemos nada e já nos "comeram" 4% do PIB. As transferências, sobretudo de emigrantes, atenuaram depois o impacto e o valor subiu para 97. É este o rendimento disponível.
Como é normal nestes casos, o rendimento disponível foi dividido em duas partes: 87 para consumo e 10 para poupança. E aqui surgiu um problema. Por definição, a poupança é igual ao investimento, e o nosso investimento foi de 22. Se só dispúnhamos de 10, onde fomos arranjar o resto? Resposta: vendemos uns activos por 2 e, a seguir, fomos buscar mais 10 à "poupança" do exterior. Endividámo-nos.
Esta é a maldição portuguesa: por cada 100 que produzimos, gastamos 110. Sempre foi assim. Habituámo-nos a viver acima das nossas posses e a dívida lá vai subindo, subindo...
Daniel Amaral, no Diário Económico, aqui.

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