Mas afinal o que nos une?

Publicada por José Manuel Dias


Não em sentido teórico e conceptual, mas sim no concreto do nosso quotidiano, neste momento de crise real, neste Portugal deprimido?
Ora o que inevitavelmente nos une é uma enorme dívida. E não se pense que é só o Estado que está endividado com uma dívida pública que dificilmente não ultrapassará em 2009 a fasquia dos 70% do PIB. Além do Estado estão endividadas as empresas que em 2007 deviam 114% do PIB e estão endividadas as famílias, que no final do mesmo ano deviam 129% do rendimento disponível.
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Está nas casas próprias que habitamos, nos empregos que foram criados e preservados, na educação em que investimos, na segurança social e saúde que garantimos, está nas estradas que construímos etc... E por muito pouco que tenhamos hoje, é bom recordar que foi com dívida que o adquirimos.
E naturalmente face a este acréscimo de dívida tivemos que recorrer ao estrangeiro para nos endividarmos. Assim, a nossa dívida externa deverá ser hoje mais de 150 mil milhões de euros. É por isso que nos próximos anos a poupança será uma prioridade inevitável. E isso representa um esforço de todos e de cada um. Representa famílias com consumos mais responsáveis, empresas com programas de redução de custos e maiores níveis de eficiência e um Estado corajoso, disponível para reduzir progressivamente a despesa pública. Mas se a dívida nos une, é fundamental consciencializarmo-nos que teremos não só de pagar os juros como, a prazo, reduzir esta dependência, isto é, pagar esta dívida. Para isso temos de nos concentrar em tornar a dívida produtiva, isto é garantir ganhos reais de produtividade.
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É por isso que, se a dívida nos une, terá que ser a produtividade (e a competitividade) que nos deverá unir. E a produtividade implicará mais trabalho, mais responsabilidade individual, mais risco pessoal, isto é mais meritocracia dos colaboradores. Representará mais selectividade, mais concentração, mais captura de ganhos na cadeia de valor pelas empresas. E implicará também maior transparência e maior eficiência a menor custo por parte do Estado. A equação de Portugal Futuro resolve-se nestas duas prioridades: Produtividade e Poupança. Pode parecer pouco, mas para Portugal é muito.
António Ramalho, em artigo imperdível, no Jornal de Negócios,
aqui.

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