Quando está frio

Publicada por José Manuel Dias


Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável, Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno
- Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar
— No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade. Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.

Alberto Caeiro

14 comentários:

  1. Anónimo disse...

    Sempre novo por muito que várias vezes lido.

  2. Isabel disse...

    Talvez seja essa a verdadeira sabedoria.

    A que nos dá a paz.

    Dela estou longe.

    Zango-me com o tempo.

    Lamento-me com as doenças.
    E combato-as com um misto de furia e ais.

    Aceito muita coisa.
    Aceito a diferença.

    Não aceito e digo não a outras tantas.

    Tenho tantos defeitos e erro tanto.

    Cometo o erro se é erro de querer compreender demais.

    Exigo do mundo que seja apenas mundo.
    Mas o mundo muda, roda , gira...
    quero que o mundo gire
    gire
    gire
    gire
    até mudar...
    que seja só mundo mas que seja diferente.

    Ele era grande eu talvez consiga um dia ser maior do que hoje sou.

    Ele tinha encontrado a paz eu ainda não.
    Eu ainda tenho duras batalhas para ganhar ou perder... logo se verá!

    A sua sabedoria ainda não tenho.

    Gostei de o reler.
    O sábio.

    Foi bom passar aqui este bocadinho.

    Até breve.

    Isabel

  3. crt disse...

    É lapso meu ou esta é a primeira vez que é postado um poema no Cogir?
    José, não pense que não sei o risco desta pergunta. Se a resposta for afirmativa é, então, sinal de que tenho estado atenta, se for negativa....

    ...prometo esforçar-me para, no futuro, estar mais atenta!
    Bom resto de semana.

  4. melga meiguinha disse...

    Obrigada pela sua visita ao meu blog.

    Quem sou eu para contrariar o poeta mas, com o devido respeito não acredito no destino.

    Gostei do que já li. Vou voltar.

    Beijocas.

  5. José Manuel Dias disse...

    ..no Dia 1 de Agosto tinha postado este ;-)


    Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
    Mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo.
    E que posso evitar que ela vá à falência.
    Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
    Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
    Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
    E se tonar autor da sua própria história.
    É atravessar desertos fora de si,
    Mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
    É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
    Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
    É falar de si mesmo.
    É ter coragem de ouvir um "não".
    É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
    Pedras no caminho?
    Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
    Fernando Pessoa, poeta português ( 1888-1935)

  6. Marina disse...

    Eu gosto de acreditar que quem faz o nosso caminho somos nós próprios.
    No entanto reconheço que, às vezes, tal como acontece com as condições climatéricas, a vida tem a mania de nos trocar as voltas, e pouco mais podemos fazer que aceitar.

    O poema foi uma bela escolha!
    Ate breve!

  7. Lídia disse...

    Soube-me bem ler este poema.

  8. Alexandre disse...

    Postar Fernando Pessoa nunca é demais. Ele viveu à frente do seu tempo e os seus pensamentos / poemas são mais que actuais, continuam a fazer parte do nosso dia-a-dia. Bem haja a Fernando Pessoa, onde quer que ele esteja.

    Obrigado pela visita ao meu blog. Também vou passar mais vezes por aqui, Aveiro tem muito para dar à blogosfera, e não só!

    Um abraço. Bom fim-de-semana!

  9. Anónimo disse...

    Olá!

    Magnífica escolha, este poema. Passei para te desejar um bom fim-de-semana.

    Bjs.

  10. crt disse...

    José,
    Em 1 de Agosto? Esse não vale. Nessa data eu ainda não frequentava o cogir. :-)
    Sabe que sou "doida" por pessoa? Pois, é verdade. Concordo com o que disse o alexandre: FP viveu muito à frente do seu tempo. Ler o o livro do desassossego foi um dos meus grandes prazeres de leitura.

  11. crt disse...

    Ah! Deixe-me dizer-lhe que o seu blog tem tudo a ver com um formador, consultor. A sério.
    Mas um intervalo com um poema também me soou muito bem. Um Bom fim-de-semana.

  12. Cleopatra disse...

    "Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
    Mas nunca ao erro de querer compreender demais, ..."

    Lamento mas eu nasci com o erro de querer sempre saber demais e mais e porqu~e,... ao pormenor....

  13. Cleopatra disse...

    Ah! Esqueci de dizer que adorei a escolha do texto.
    Este tipo de "ensinamentos" são mais fáceis de apreender para mim... coitada de mim!

  14. Anónimo disse...

    bonito poema... e com verdade!

    mas confesso preferir Álvaro de Campos (dos heterónimos)!


    obrigada pela tua visita.
    (desculpa ser só agora...)

    bom ano também para ti!