Tradicionalmente, os economistas dedicavam pouca atenção ao modo de funcionamento do Governos e da Administração. (.../...)
A teoria da escolha pública veio precisamente alertar para a necessidade de questionar a própria acção do Governo e da Administração Pública, partindo do pressuposto, aparentemente razoável, de que os indivíduos que actuam no mercado não se transformam radicalmente quando passam a agir na esfera governativa ou burocrática. (.../...)
Como insiste G. Stigler, os economistas, da noite para o dia, deixaram de pregar a abstenção do Governo para passarem a recomendar a sua intervenção. Não pararam no entanto sequer para pensar se algum Governo teria a capacidade para assumir esses compromissos de forma eficiente, antes dando-a como pressuposto. Ora, a nova teoria económica do governo lança sérias dúvidas sobre a bondade deste pressuposto implícito.
Assim, há vários pontos que se torna necessário considerar. Em primeiro lugar, qualquer proposta de intervenção do Governo deve explicitar não só os objectivos a atingir, mas também os custos envolvidos, os recursos humanos necessários, o esquema organizacional e de incentivos a aplicar e os métodos de avaliação a utilizar na prossecução dos objectivos desejados. Em segundo lugar, é necessário ter sempre presente que uma eventual imperfeição do mercado não é condição suficiente para justificar uma intervenção do Governo. Em terceiro lugar, devemos estudar os processos de governação, de forma a tentar aumentar a eficiência.
Retirado de "O que é a Escolha Pública", André Azevedo Alves e José Manuel Moreira, Principia, Publicações Universitárias e Científicas, Cascais (2004)