A causa da crise assenta, sob muitos aspectos, em razões sociológicas. Não só por aquilo que Raymond Plant recentemente escreveu (afastámo-nos da virtude, disse ele, e o nosso afastamento das religiões ou filosofias que a pregavam também é causa da crise), mas porque a própria vida actual nos empurrou - a todos ou quase - para uma ideia que, vista hoje, é preocupante: a convicção de que a poupança, ou que amealhar para o futuro não faz qualquer sentido.
Para tal não contribuiu apenas uma razão, mas dezenas delas. E, desde logo, ideias generosas e que fazem sentido - refira-se a da garantia das reformas pelo Estado - assim como ideias duvidosas, "vide" as do crédito imediato concedido pelo telefone.
A enorme diferença é que há uns anos, não mais do que duas gerações, as famílias aforravam para a velhice, porque sabiam que não haveria outros apoios senão os familiares. E, quando se era novo, trabalhava-se para atingir um objectivo, fosse ele casar, comprar casa, ter um carro ou fazer férias especiais.
Hoje confia-se no Estado para assegurar reformas (ainda que a confiança nos últimos anos tenha baixado). Quando não é no Estado é num PPR, que por sua vez entrou, na maioria dos casos, no mesmo circo financeiro que os bancos. Já quanto aos bens, como automóveis, casas ou férias, o sistema desde há 50 anos que nos aconselha a comprá-los primeiro e pagá-los depois. Tudo junto, é todo um programa contra a poupança. O contrário do aforro é o endividamento. E quando todo o sistema assenta na dívida podemos ter colapsos destes.
Henrique Monteiro em artigo de opinião no semanáriol Expresso, a ler na íntegra aqui. Um artigo de grande valor pedagógico. Se queremos ter futuro teremos que renunciar ao prazer do consumo imediato, teremos que (re)aprender a poupar.